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A grandeza de uma mulher pequena

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A Grandeza de uma mulher pequena

Dom Augusto César

Olhar de Fé

Não sei se vos escandalizo, com o que vou dizer a seguir. Mas, nesta hora, sinto-me como aquela mãe que olha para os filhos todos (eles agora são poucos!), e desvia sistematicamente os olhos na direção do mais pequenino ou, porventura, mais doente. Na realidade, assim faz Deus, embora nos custe admiti-lo e, mais ainda, imitá-Lo. Senão, vejamos quem se lembra de rezar pelos que matam ou se impõem pela força. E quem põe nas suas orações os criminosos que andam por aí a roubar e maltratar, sem ter em conta o sofrimento alheio? E os drogados, os sem abrigo… que tanto precisam da nossa oração e da nossa caridade?… em todo o caso, do alto da Cruz, ouve-se uma voz que grita mais alto do que toda a vozearia da multidão enraivecida e sem piedade: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”! E a mesma voz ficou a ecoar pela história além… à conta do olhar de Deus que não se desvia de quem mais precisa e pede, ou de quem mais sofre e, mesmo, de quem faz sofrer.

Com efeito, este ‘mistério’ de amor aproxima-nos doutros episódios narrados por Jesus, ao longo da sua pregação: o filho pródigo a quem o pai abraçou, na sua miséria, e lhe restituiu a dignidade que havia perdido… o homem caído na valeta por causa dos maus tratos dos ladrões, a quem o bom samaritano socorreu… e muitas outras parábolas dirigidas ao nosso coração e à nossa fé, por vezes distraídos do essencial.

Acontece que Maria Rivier foi aluna desta escola, desde muito pequenina: vendo-se paralisada, aos dezasseis meses, como consequência duma queda, ficou dependente dos braços da mãe e à conta das lágrimas que teimavam em deslizar-lhe pela face. Simplesmente, ‘Deus escreve direito por linhas tortas’ – como diz o nosso povo. E duma mãe tão ocupada com a vida, que não sabia como fazer, surgiu uma ideia inspirada pela fé e conduzida pela necessidade. Em vez de deixar a pequena entregue à solidão da casa, lembrou-se de a levar para a ‘capela dos penitentes’ (assim chamada), onde estava uma imagem de Nossa Senhora, com seu Filho morto nos braços. E, ali, pousada no amanho dum cobertor, podia distrair-se e, também rezar. Se fosse hoje, os meios de comunicação, denunciavam tal solução e o escândalo aumentava o sofrimento da mãe e da filha. Já não assim, se ela tivesse sido abortada por indesejada ou incómoda.

A luz ao fundo do túnel

Em todo o caso, o milagre da cura começa a despertar suavemente, como a aurora que deixa ver uma ténue claridade… no longe do horizonte! – E é pena que hoje, muitas pessoas (mesmo católicas), prefiram as receitas feitas ou enfeitiçadas, à perseverança da fé e à confiança da oração. Mas, a pequenina Maria Rivier, escolheu decididamente este caminho. Porquê? Vejamos a ‘nascente’ do milagre: a mãe deu-lhe sempre ternura, condimentada pela fé. E isto gravou-se no coraçãozito da pequena, sem que o sofrimento da paralisia lhe toldasse o olhar. Por isso, sozinha na capela e longas horas diante daquela bendita imagem, foi desenvolvendo a curiosidade e aplicando à contemplação, o que recebera de sua mãe. – Não deixemos, entretanto, de reparar nas famílias que hoje se esquecem de comunicar aos filhos o que são e o que sentem, à conta da fé e dos valores estruturantes da personalidade. Ou dito de outra maneira: que ignoram ou esquecem a primeira e maior lição, que começa pelo testemunho de vida! Pois, assim fez e ensinou Jesus Cristo, aproximando os discípulos daquele tempo e os de hoje que somos nós, da bondade transparente de Deus-Pai e da Sua infinita misericórdia! E se antes falei do testemunho de vida, dado pelos pais, agora, acrescento a missão de educar o coração dos filhos. Doutro modo, o laicismo do tempo e a corrente da moda encarregam-se de os distrair do fundamental da vida, medindo a felicidade por tudo o que apetece, e só o que apetece.

Vamos, agora, até à capela, para observar a pequena Maria Rivier. Permanece sozinha e sem forças para se movimentar. Mas observa atentamente a Mãe e o Filho, até ao ponto de começar a dialogar com eles. E, pouco a pouco, sente-se envolta naquele mistério de dor e amor, chegando a esquecer a sua própria situação. A seguir, surgem as perguntas: – Porquê? – Que mal fez o Filho, para merecer a condenação e a morte? E a ternura daquela Mãe seduzia-a… bem como a paz que irradiava do rosto do Filho… Por isso, quando, ao fim da tarde, sua mãe chegava do trabalho e a levava para casa, Maria Rivier continuava a fazer perguntas e a receber catequese. De sorte que, no dia seguinte, já sabia mais e perguntava melhor. Isto, ao longo de quatro longos anos… Entretanto, a confiança foi crescendo e ela acabou por pedir uma graça, comprometendo-se apostolicamente: se me curares deste mal e me deixares viver, eu hei-de trazer-te muitas crianças, ensinando-lhes a fé que me inspiras e que minha mãe iniciou lá em casa! E a esperança do milagre ia fazendo caminho… Algumas vezes, Maria Rivier era mesmo impertinente com Nossa Senhora: cura-me, Mãe, pois, eu sou muito nova ainda e desejo ser catequista junto das crianças, para lhes falar da tua bondade e ternura, e do amor que lhes tens e as há-de tornar felizes! E repetia este pedido, dia após dia, acreditando que o milagre acabaria por ser uma bênção para ela e para muitas. E, finalmente, aconteceu: era o dia 8 de Setembro de 1774, festa da Natividade de Nossa Senhora!

Continua….

*Fotografia tirada da Cripta, da Casa Mãe em França

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