P. Jorge Sena sj
1. Em cada idade, uma experiência de plenitude.
O entardecer da vida não se pode viver como o amanhecer. Mas ambos estão ligados entre si de uma forma tão essencial que se têm de considerar como parte de um todo harmonioso. São fases distintas de uma única existência que se encaminha para a consumação. Cada sete anos renovamos as células do corpo; com o tempo, mudamos a personalidade. Mas a vida é só uma.
Cada fase da vida tem a sua própria missão, a sua transformação, beleza e encanto: Infância: simplicidade, confiança e inocência; Adolescência: mudança, descoberta, afirmação e crescimento da personalidade; Idade adulta: estabilidade, trabalho, criatividade; Velhice: maturidade, serenidade, interioridade, ternura: “Ensina-nos, Senhor…” (Sl 90, 12)
2. Envelhecer, um desafio que o tempo deve preparar.
A fragilidade da velhice toca-nos profundamente, desafiando-nos a uma reconciliação contínua com ela. As limitações aumentam: incapacidades físicas, doenças, perdas de memória e de rendimento intelectual; diminuição da autonomia com o aumento progressivo da dependência; experiência de solidão, de abandono. Tudo o que, em grande parte, apoiava o sentimento de auto–estima, praticamente desaparece: o trabalho profissional, a força criadora e a produtividade, o cuidado e dedicação às pessoas, a influência e posição social bem como a aparência e a força física. Esta situação contrasta com a dinâmica e os valores em moda no mundo em que vivemos: sociedade do rendimento, em que tudo se aproveita ao máximo e em que se tem de sair vencedor. Não só se deve ganhar dinheiro e reconhecimento como boa reputação e gratidão. A medida das coisas, que antes determinou a vida, perde assim a sua validade e coerência.
Em vez de nos preocuparmos com o rendimento devemos apostar na fecundidade da vida. É a linguagem da Sagrada Escritura. Exige uma atitude diferente, maravilhosamente expressa por Jesus na parábola da semente (Mc.4, 26-27). Para o bom rendimento é necessário que se dominem todos os instrumentos na forma de agir; na fecundidade, é essencial confiar no mistério e deixar que Deus trabalhe em nós. À falta de energia e iniciativa, respondemos com maior entrega (testemunho do P. Pedro Arrupe). O ideal do “magis” volta-se mais para o ser do que para o fazer. Os estímulos externos dão lugar aos apelos à interioridade. A diminuição da atividade é compensada pelo amor simples e silencioso (“discreta caritas”).
3. A missão dos mais velhos
O número de idosos nas nossas comunidades tem crescido: aumento da esperança de vida. A experiência vivida, a maturidade, a visão abrangente da realidade, a isenção e a ausência de ambição e competitividade, permitem que os membros mais velhos de uma comunidade desempenhem um papel muito especial:
– referência de estabilidade e segurança
– comportamento prudente e ponderado
– intervenção pacificadora nas desavenças e situações de conflito
4. Como lidar com o próprio envelhecimento?
Lutar contra a tendência natural para a repetição, fixação, imobilidade. Não idealizar o passado: “no meu tempo…” Despertar a inteligência: ler, observar, informar-se, conversar. Cultivar valores culturais Desenvolver ocupações estimulantes do tempo. Praticar pequenos serviços, ser útil na medida das próprias forças. Estimular o sentido de humor, a alegria e otimismo. Abraçar cada dia sem preocupações com o amanhã (Mt.6, 34) Cultivar o sentido de gratidão pelos dons da vida(contemplação “ad amorem”) Rezar a vida, apostando em momentos fortes de intimidade com Deus, escolhendo modos de orar que ajudem a fortalecer a união com Deus.