P. Jorge Sena sj
O olhar amoroso de Deus sobre a criação
A humanidade, entre gemidos de dor e sentimentos de esperança, aguarda a vinda do Salvador. A Santíssima Trindade, no seu amor infinito pela criação, decide resgatar o género humano. A salvação parte de Deus, que decide entrar na história dos homens, enviando o seu próprio Filho: “de tal modo Deus amou o mundo que enviou o seu próprio Filho”. A resposta de Deus ao pecado da humanidade é o dom do seu Filho. “Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco: em ter enviado o Seu Filho unigénito ao mundo para que com Ele vivamos” (jo 4, 8).
A salvação é iniciativa de Deus, é um dom que vai ao encontro da vida humana, resgatando-a para o Criador. Restabelece a harmonia do projecto original que Deus idealizou para cada um de nós. “Deus, entregando-nos a sua palavra, não tem outra palavra para pronunciar, e dando-nos o seu próprio Filho não tem outro dom para oferecer” (S. João da Cruz).
Jesus assume em plenitude a condição humana. Faz-se “igual a nós em tudo exceto no pecado”; mergulha em profundidade no nosso modo de existir. Faz-se carne, acolhendo as imperfeições e limites da finitude terrena. O Verbo faz-se carne e habita entre nós, faz sua a nossa vida, num gesto profundo de presença e solidariedade.
Jesus, Servo dos servos
O Messias é o servo de Javé, anunciado pelos profetas (Jeremias, Isaías). Salvará o seu povo, será “Luz das nações”. Por Ele, a “salvação chegará aos confins da terra” (Is. 49). A encarnação é o gesto radical de serviço: “Ele, que era de condição divina, não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus mas despojou-se a Si mesmo tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fil. 2, 6-7).
Jesus apresenta-se à humanidade como modelo de serviço. Veio para servir e não para ser servido (ex: bodas de Caná, lava-pés, cura dos doente, conforto dos aflitos…). É o Mestre que ensina os discípulos com solicitude e abnegação, ajudando-os a crescer para Deus. É o formador da equipa apostólica, que educa para o compromisso, o discernimento, a entrega generosa aos irmãos.
Maria, Serva do Senhor
A resposta ao convite da Anunciação representa para Maria uma arriscada aposta no desconhecido. “Como será”, “como vai acontecer?” A mensagem de Deus, anunciada pelo Anjo, é acolhida com a força interior da fé. O “como” é vencido pelo “sim” da confiança. Começa aqui o serviço de Maria à humanidade: “eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1, 38). Toda a vida de Maria vai ser expressão desta opção de serviço radical. Maria é serva do Senhor:
- Oferecendo-se para ser mãe do Filho de Deus, para ser porta de Deus, a primeira casa em que Deus habita a humanidade;
- Indo ao encontro de Isabel. Com muito esforço, apoia a sua prima num momento difícil;
- Preparando e entregando Jesus à sua missão;
- Apoiando com solicitude os discípulos, os amigos de Jesus;
- Acompanhando Jesus até à Cruz, sempre firme e presente junto do Seu Filho;
- Acolhendo João, tornando-se mãe da Igreja nascente.
Jesus e maria desafiam-nos a segui-los na entrega incondicional a Deus e à humanidade.