Ir. Elodie Filipe pm
O Evangelho deste Domingo diz-nos que “Uma voz clama no deserto” (Lc3, 4). Facilmente a nossa imaginação desenha um deserto e escuta uma voz que ecoa por entre dunas e vento. Mas detenhamo-nos neste cenário com maior atenção, aumentando o zoom na voz que se escuta, no deserto.
Quantos de nós, não ouvimos no deserto do nosso coração, das nossas horas, das nossas incertezas e angustias e até das nossas alegrias, uma voz que teima em interpelar-nos para algo mais? Certamente muitos de nós, mas nem todos ousamos prestar-lhe atenção. Porque será? Possivelmente, porque exige uma mudança, exige um desinstalar-se, exige um descalçar os chinelos e sair do sofá e que bem que se está no sofá.
Para quem conhece Maria Rivier, recordar-se-á daquele episódio em que ainda criança sente um forte apelo a ir para o deserto, á semelhança daquilo que ela ouvira que os Padres do deserto em tempos haviam feito. A questão que nos podemos colocar é: será que aceito escutar essa voz? Será que permito que esta voz, que em mim clama, tenha espaço para se revelar? Porque é preciso acolher esta interpelação, deixar que entre pelo ouvido e se dirija ao nosso coração. Uma vez feito este caminho, a voz, a palavra percorre todo o nosso ser, gera em nós um movimento…como gerou em Maria Rivier.
Esta voz que clama em nós, é a voz de Deus e precisamos emprestar-lhe o nosso ouvido, porque a nossa plenitude depende disso. Se olharmos para a figura de S. José podemos ai encontrar um belo ícone, que ilustra esta atitude de dar espaço à voz de Deus, que clamou no seu coração, através dos sonhos. S. José como imagem do cuidador, do guardião desta voz que lhe dirigiu a Palavra e à qual ele deu livre acesso, a tal ponto que essa voz, essa Palavra fez-se carne e veio habitar entre nós.
Quantas vezes, o Senhor nos terá dirigido a Palavra, no desejo de que em nossas vidas encarnasse o Menino Jesus?
É urgente cuidarmos desta Palavra que nos é dirigida, como cuidavam as nossas avós da vela que se consumia, colocando mais azeite para não se apagar. Se for preciso andemos com um pequeno frasco de azeite atrás, para cuidar da chama que rompe a noite, assim como a voz rompe o deserto, os nossos desertos. Uma voz que ecoa e que quer levar-nos à disponibilidade, de maneira a podermos acolher a Palavra anunciada por essa mesma voz.
Que ao longo desta semana, possamos pedir insistentemente esta graça de darmos sem medo, espaço à Palavra. E repetindo com devoção interior esta jaculatória: “Oh Jesus vivendo em Maria, vinde e vivei em nós”…deixemos que nesta caminhada de Advento Maria possa levar-nos a Jesus.