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Evocação histórica

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Irmã Maria dos Anjos Alves, p.m.
Superiora geral

Hoje, 1 de março de 2025, ontem, 1 de março de 1925. 100 anos de História!

O Centenário que celebramos hoje, da chegada da Irmã Trindade, da Irmã Santa Elisabeth, da Irmã Maria da Graça e da Irmã Maria Laurência, a esta Ilha de flores e de beleza, marca o início da Fundação da Apresentação de Maria, em Portugal.
Celebrar 100 anos da chegada da Irmã Trindade e das suas companheiras à Madeira é vivenciar em alto grau, uma história de amor e de fé, em visão alargada da esperança e de compromissos que ultrapassaram o espaço e o tempo.
Fazer memória desta data, tão significativa para nós, é colocar em evidência: o Amor incondicional de Deus pela humanidade, a criatividade do seu Coração aberto em profusão, a sua Mão invisível e constante a conduzir os acontecimentos, nas encruzilhadas da vida e da História. Esta etapa abriu caminhos de esperança, marcada por respostas audazes e criativas, feita de passos humildes e gigantes, imersos no AMOR eterno de Deus, que se derrama no coração daquelas e daqueles que deixam tudo para seguir, o Deus da Paz e da Vida. Seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir, rezava o profeta Jeremias, Jr 20,7.
O Acontecimento que estamos a celebrar é rio de água-viva, que brotou da Palavra de Jesus, que antes de partir para o Pai, disse aos seus discípulos: os de ontem, de hoje e de amanhã: sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo Act 1,8. Somos enviados a dar testemunho, da alegria do Evangelho. É uma alegria muito grande estarmos juntos, neste dia, nesta lindíssima Catedral do Funchal. Queremos continuar a abrir caminhos de luz, lançar sementes de paz, de fraternidade e de esperança. Sementes que nascem do encontro pessoal com Jesus Cristo.
Ainda noviça, a Irmã Trindade, possuída e movida pela ação do Espírito Santo pede à Superiora geral, a Madre Santa Honorine, uma Fundação em terras de Portugal. Resposta imediata: ao fazer-se tal fundação, deveria realizar-se com religiosas do próprio país. Quando houvesse 20 religiosas portuguesas, pensar-se-ia nisso…. A resolução parecia distante, havia tempo para pensar em tal projeto. A Deus nada é impossível. Se acreditares, verás a glória de Deus Jo 11,40, diz Jesus no Evangelho. A Palavra de Deus acontece. Grupos sucessivos de jovens portuguesas chegam ao Noviciado da Casa Mãe, em Bourg Saint-Andéol, ultrapassando em pouco tempo, o número determinado.
A Fundação foi decidida. A Superiora geral e o seu Conselho confirmam o projeto e a 7 de fevereiro de 1925 a Madre geral anuncia a decisão a D. António Pereira Ribeiro, Bispo da Diocese do Funchal e à Senhora D. Maria Eugénia de Canavial, comunicando-lhes que a responsabilidade da Missão fora confiada à Irmã Trindade, “cujo espírito profundamente religioso e conhecimento do meio eram garantias do bom funcionamento da Obra”.

A 13 de fevereiro de 1925, a Irmã Trindade, a Irmã Santa Elisabeth, a Irmã Maria da Graça e a Irmã Maria Laurência partem da Casa Mãe, em França. A viagem fez-se em três etapas: Bourg-Saint-Andéol, S. Sebastian (Espanha); S. Sebastian, Lisboa, onde chegaram a 21 de fevereiro de 1925. Uma viagem marcada pelo sofrimento. A Irmã Trindade sentia-se desfalecer de cansaço e de frio, estava com tuberculose. Os médicos consultados, em Lisboa, declararam o aspeto adiantado da doença. Que fazer? Aos olhos humanos era o fracasso completo da missão. Uma Fundação pregada sobre a Cruz, sobre a provação e a dificuldade, venho para morrer, escrevia a Irmã Trindade. Tudo foi vivido na oração mais profunda, na entrega e confiança total, ao Deus do AMOR e da VIDA!
A Irmã Trindade escreveu à Superiora geral, a 22 de fevereiro, em Lisboa: O mais triste é que os médicos não me aconselham o clima da Madeira. Que fazer? Perguntamos nós, abandonar tudo? Não. A Fé, a Esperança e o Amor dão à Irmã Trindade forças para continuar a viagem. A 27 de fevereiro partem de Lisboa rumo ao Funchal, onde chegam a 1 de março de 1925, pelas 10 horas da manhã, era Domingo, Dia da RESSURREIÇÃO! Em tudo a vontade de Deus!
Se o grão de trigo lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto Jo 12,24. Sementes lançadas, caminhos novos se abriram, alicerçados em respostas criativas, nos diversos contextos, onde as irmãs foram enviadas. Nesta terra abençoada, a semente foi lançada, germinou… E daqui da Madeira a árvore da Apresentação cresceu e deu frutos. Em 1938 partiram para Portugal Continental, em 1941 para Moçambique, em 1980 para o Brasil e para outros países onde a Casa da Apresentação era construída.
A Madre Trindade foi a nossa primeira Mestra de noviças, a nossa primeira Superiora provincial. As suas instruções eram luminosas, profundas. Foi uma educadora de excecional qualidade, uma irmã feliz no SER e no FAZER.
Desejo evocar aqui o testemunho da Madre Jean Théophane, Superiora geral, na altura em que a Madre Trindade partiu para a Casa do Pai, – 16 de julho de 1974: Pessoalmente, tive a grande felicidade de contactar com a Madre Maria da Santíssima Trindade várias vezes, nos últimos anos da sua vida terrestre. Se procuro explicar o encanto, o carácter verdadeiramente fascinante da sua personalidade, se tento analisar o traço mais impressionante da sua fisionomia, vêm-me à memória as palavras de S. João: Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e acreditámos nele 1 Jo 4,16.
Sim, o Amor de Deus foi-lhe revelado, e ela acreditou nele!
Acreditou no amor, deixou-se amar, tomar, transfigurar pelo Amor.
Conhecemo-la humilde e forte no Amor.
Vimos nela a humildade e a doçura do Amor, a força e o poder criador do Amor,
a unção, os gestos, as atitudes do Amor, os impulsos e o fervor do Amor.
Nunca as “grandes águas” puderam apagar nela a viva chama do Amor!
No entardecer da sua vida, tudo nela dizia:
a presença, a ternura, a oração constante…
Tudo deixava transparecer o mistério que a habitava. Tornara-se semelhante ao ícone de Nossa Senhora da Ternura, com os seus grandes olhos voltados para o interior e, ao mesmo tempo, fixos no mundo, cujo sofrimento ela assumia com um coração verdadeiramente magnânimo.

Conduzidas pelo fogo criador das nossas origens, queremos avançar em Igreja e com a Igreja ajudar a construir um mundo de beleza, de harmonia, de equilíbrio, de paz. Desejamos caminhar juntos, percorrer caminhos de evangelização, de educação, de compaixão. Testemunhar Jesus, audazes, firmes na fé, comprometidas no anúncio e vivência do Evangelho. Não ter medo de sonhar, de viver o diferente, dando respostas credíveis ao querer de Jesus, no hoje da nossa história. É Jesus que seduz, é Ele que chama, nos congrega. Precisamos de escutar a sua voz. “O olhar de Jesus cura o coração, o amor cura a vida”, diz o Papa Francisco. Conhecemos a experiência dos discípulos de Emaús: Não nos ardia o coração, cá dentro quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? Lc 24,32.
Nossa Senhora, Mãe, Rainha e Padroeira da Apresentação, ela que tudo fez desde as nossas origens, continue a conduzir a Barca para a maior glória de Deus e o bem de todos e atraia novas vocações para a Igreja. Ela caminha connosco, a mulher orante, pessoa do encontro, do diálogo, a missionária da esperança. Somos peregrinos da esperança!
Santa Maria Rivier, nossa Fundadora com o seu coração de fogo e fé ardente, nos anime a avançar sempre mais, para fazer conhecer e amar Jesus Cristo, por toda a parte: tal é a nossa vocação.
Leontina de Ornelas e Vasconcelos ilustre filha desta Terra, bebeu na Fonte, dizia no fim da sua vida: quero amar sempre! Madre Maria da Santíssima Trindade, filha fiel de Santa Maria Rivier, de quem somos testemunhas. Que um dia tenhamos a alegria de a ver proclamada santa para a maior glória de Deus e a Salvação de todos. Em tudo a vontade de Deus!
MAGNIFICAT!

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