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HISTÓRIA de um sim

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Olá a todos! Sou a irmã Carla Barbosa.

Nasci numa pequena aldeia do concelho de Sever do Vouga, do distrito de Aveiro, há 40 anos. A minha família, desde muito cedo procurou educar-nos nos verdadeiros valores cristãos. Foi com a minha mãe e particularmente com a avó Belarmina, que aprendi a dizer “Pai Nosso”. Já o meu pai era um pouco desligado destas coisas da religião, mas sempre respeitou a forma como íamos crescendo e vivendo esta realidade. Cresci entre o aroma dos eucaliptos e o perfume das flores campestres, mas sobretudo apreciando a simplicidade das pessoas, as suas lutas e esperanças.

Sim, o começo de tudo é aí, nesse pedacinho de terra perdido na serra, onde o ar é purificado pelo aroma a eucalipto e onde a simplicidade de vida se espelha no rosto humilde das pessoas.
Com os meus pais aprendi o amor exigente, mas bondoso, a grandeza das pequenas coisas, a importância dos valores… ensinaram-me a descobrir os segredos da natureza que ciclicamente se renova e se deixa trabalhar para fazer nela germinar a vida. Deles recebi, desde cedo, o testemunho que fala mesmo sem palavras. O meu único irmão, o Zé, mais novo que eu um ano, foi o meu grande companheiro de infância, com ele partilhei as primeiras descobertas e aventuras.

Esta foi a minha pequena “Nazaré”!

Fiz um percurso normal no que toca à caminhada de fé. Celebrei os sacramentos, pertencia ao grupo de jovens da paróquia, ajudava na igreja… e tinha os mesmos sonhos de qualquer adolescente da minha idade. Casar não era importante para mim, mas lembro-me que dizia às pessoas que queria ter muitos filhos.

Parece-me sentir ainda aquela interpelação interior, bem no meio do ruído da minha adolescência, quando pelos 12 anos Deus como que entra “de mansinho” nesta minha história. Por ocasião da Semana de Oração pelas Vocações, um padre foi à aula de EMRC falar-nos sobre o que era isto de vocação e chamamento. Até aqui tudo normal. Mas… um pequeno papel que deixou, com as palavras “Já pensaste que Cristo precisa de ti?”; “Vem e segue-Me”, despertaram-me para aquela que seria a maior aventura da minha vida: a descoberta do plano de felicidade de Deus para mim. Aos poucos fui percebendo que Deus me chamava a algo de grande e belo. Procurava as respostas a tantas inquietações e dúvidas. Comecei a dar catequese, a implicar-me ainda mais na paróquia, tentando saciar a sede de um amor que queria universal, mas tudo era tão pouco, tão banal…

Pelos 15 anos, faço a experiência de um encontro de jovens com as Irmãs da Apresentação de Maria, que tinham uma comunidade na minha paróquia. Aí Deus manifesta-se com mais força, embora no silêncio do coração, e dá-me a resposta que procurava: a minha felicidade passava pela entrega incondicional a Deus, na vida religiosa. Fiquei fascinada com a eucaristia e algumas Palavras de Deus que alimentavam a sede que crescia a cada momento. Cristo olhava para mim com ternura e dizia: “Deixa que… mas tu vem e Segue-Me!” mas ao mesmo tempo tudo era tão estranho, não sabia bem explicar o que se estava a passar por dentro. Este foi o primeiro passo de um caminho nem sempre fácil, mas era aquele que Ele queria para mim. A primeira etapa era já certeza: queria ser religiosa. Foi o primeiro SIM, dito no segredo. Depois foi o tempo de outro discernimento. Onde assumir este SIM grande? Contactei com muitas congregações, na ânsia de saber mais, de perceber onde Deus me queria… mas mais uma vez, a resposta estava ali tão perto.

Deus foi-se servindo de coisas tão pequeninas para me falar, para me mostrar o caminho a seguir!
Continuei a participar nos encontros de pastoral vocacional orientados pelas Irmãs da Apresentação de Maria e lentamente fui-me aproximando sempre mais, fascinada pela felicidade e serenidade que transmitiam, como também pelo imenso respeito e liberdade com que sempre acompanharam o meu percurso de busca e combate espiritual. O caminho ia-se fazendo ora cheio de entusiasmo, ora mais lento e pensativo…

Com 18 anos, ao participar na celebração de votos perpétuos de uma irmã da Apresentação de Maria, Deus sacode-me fortemente com as palavras da nossa fundadora, Maria Rivier: “Sede inteiramente de Jesus Cristo para o tempo e para eternidade!” Eis o que faltava! Nesse momento disse espontaneamente o meu SIM a Deus na Apresentação de Maria.
Parece-me experimentar ainda aquela paz e serenidade tão íntimas e profundas quando entreguei todo o meu ser ao querer de Deus.

Nessa altura tinha acabado o ensino secundário e para a minha família era evidente que eu, ou ia trabalhar, ou continuava a estudar. Ir para o convento estava fora de questão. Embora os meus pais já tivessem percebido que algo se passava comigo, a verdade é que nunca lhes falei abertamente deste assunto. Fi-lo poucos dias antes de deixar a minha terra, os projetos que tinham, e partir para Setúbal, para iniciar a minha formação no noviciado. Não foi uma decisão bem aceite por eles nesse momento. Sofreram porque queriam outra coisa para mim e também porque não conheciam a realidade da vida religiosa. Hoje estão felizes por mim.

Foi esta a minha “Galileia”!

Depois de 4 anos nas várias etapas da formação chegou o dia 8 de dezembro de 2003. Parece-me escutar ainda o imenso Magnificat que encheu a minha alma neste dia da minha Primeira Profissão, ao oferecer todo o meu ser ao Senhor, pelos votos de castidade, pobreza e obediência. A partir de então muitos acontecimentos fortes têm dado cor a este SIM, têm cumulado de sentido este instante fonte. Parece-me sentir ainda a imensa alegria do dia da minha profissão perpétua, no dia 21 de novembro de 2010, onde o SIM volta a ganhar sabor de eternidade.

Em cada missão apostólica que me foi sendo confiada junto das crianças, dos jovens e dos adultos, aprendi a conhecer Jesus Cristo, a vivê-Lo nos Seus mistérios e a mostrá-Lo e ensiná-Lo através de toda a minha vida. No rosto dos mais pequenos e pobres, encontrei o sinal da ternura de Deus.

Neste momento, Deus confia-me a missão de responsável de formação no noviciado, acompanhando aquelas que desejam seguir Jesus na grande família da Apresentação de Maria. Hoje percebo claramente que aquele desejo que tinha em criança de ter muitos filhos, ganha uma dimensão bem maior e bem mais profunda. Sinto-me plenamente feliz, acolhendo em cada dia o desafio sempre novo de ser instrumento de Deus para o bem de todos os que cruzam o meu caminho.

Hoje, Deus continua a falar-me através das coisas simples, no sorriso de uma criança, na beleza de um campo de papoilas, num cântico harmonioso, nos pequenos e grandes toques que ninguém vê, que só o coração entende e é capaz de descobrir, porque esses são verdadeiramente essenciais. Hoje continuo a experimentar o olhar terno e misericordioso de Jesus que, dia após dia, me convida, apesar da minha imensa pobreza, a fazer da minha vida um sinal luminoso no meio do mundo.

Esta é a minha “Jerusalém”!

Hoje posso dizer, na força daquele primeiro olhar: FIAT! SEMPRE E DE NOVO PARA TI!

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