Adriana Abreu
Muitas são as vezes em que Jesus apela à vigilância. Recordo, por exemplo, este pedido dirigido a Pedro, Tiago e João, quando quer que estes se façam Seus íntimos no momento de angústia no Getsémani (cf. Mt 26, 36). Neste Domingo, o 1º do advento que temos a graça de viver em Igreja, a liturgia aponta-nos no mesmo sentido. Diz-nos Jesus: “vigiai e orai em todo o tempo” (cf. Lc 21, 36).
Vigiar implica a totalidade do sujeito vigilante. Não posso vigiar sem estar atenta, comprometida, entregue, sem envolver os meus sentidos e disposições interiores, o meu entendimento e vontade nessa demanda. Não posso vigiar sem ter o espírito de uma vela, que, uma vez acesa, sempre vela, não encontrando propósito ou utilidade sem ser o de se queimar e gastar enquanto alumia. Quão pedagógico é, para mim, um pedaço de cera fundida a arder!
É verdade, é um desafio manter a vela acesa na noite em que os ventos são contrários, mas, para isso, é necessário que a envolva, que proteja a sua chama com as mãos e ponha tudo da minha parte para que não se extinga esse fogo- por vezes pouco- que ainda arde, mesmo que quase se confunda com o pavio apagado e solitário. Vigiar é dispor o meu olhar para o encontro com os olhos d’Aquele que vem nascer- e só nasce- para que eu tenha vida e a tenha em abundância (cf. Jo 10, 10) e, uma vez feita a experiência desse encontro, não deter o meu campo visual noutras silhuetas que não sejam expressão do Seu rosto. Daí a importância de vigiar – desencontrando o meu olhar do de Jesus desencontro-me de mim mesma e perco a Vida- a que me é dada e a que tenho a missão de dar. Desejando este encontro de todo o coração, com um propósito firme e determinado, por Graça, não há de a vela derreter-se e atingir a sua consumação antes que venha a Luz Plena, antes que o Senhor se mostre a mim.
Então, Jesus, é meu desejo, neste tempo de advento que agora se inicia, deixar que a Tua luz ilumine a escuridão do meu espírito, queime o que de mim ainda não é Teu e guarde a parte que já tive coragem de Te entregar. Quero, como nos ensina a Madre Rivier, caminhar com coragem sem nunca me afastar de Maria, pois sei que, pela sua mão, chegarei a encontrar a humildade encarnada, vulnerável, e completamente dada a mim, na manjedoura, no dia de Natal.