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RECEBER MARIA «EM SUA CASA»

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Texto da Madre Jean-Théophane pm

Não basta «saber» que Maria é realmente nossa Mãe na ordem nova da graça. De facto, há muito tempo que «sabemos» isto. É preciso que esta relação se concretize na nossa vida, que afete todo o nosso ser e o nosso comportamento espiritual. É preciso que consintamos neste desígnio de Deus misericordioso e que, renovando o gesto do Discípulo junto da Cruz, recebamos efetivamente Maria «na nossa casa», na nossa intimidade, para sermos ajudadas por Ela a tornar-nos perfeitos discípulos de Jesus Cristo.

Quando o Evangelho diz que João recebeu Maria em sua casa, ele quer sublinhar a qualidade das relações que unem doravante o discípulo de Jesus e a Mãe de Jesus. Não se trata somente de receber Maria em sua casa, mas de acolhê-la na fé, entre os seus bens ou na sua intimidade. É o sentido do texto original. É na sua comunhão com Jesus,  neste meio espiritual íntimo que o discípulo acolhe agora também como sua a Mãe de Jesus, num espaço interior já constituído por ele pela sua relação com Jesus. Não se trata duma relação ao lado da outra, ou substituindo a outra, mas duma mesma relação de parentesco espiritual, que só se pode conceber na fé, e por causa do laço único entre Maria e seu Filho, primogénito de muitos irmãos (Rom 8, 29). É pela mesma graça, pela mesma vontade misericordiosa do Pai que nos tornámos filhos de Deus e filhos de Maria junto da Cruz de Jesus.

Receber Maria em sua casa, é uma maneira nova de seguir Cristo, de viver para Ele e d’Ele. Estar com Maria, é estar com Jesus. Ela é a primeira e  a mais fiel discípula do seu Filho, como a representa muitas vezes a iconografia: a mão direita atrás da orelha descoberta, à escuta do seu Menino, que ela segura com o seu braço esquerdo. É a este título que Ela é a nossa educadora, como o foi para os Apóstolos na Igreja nascente. Revela-nos o sentido secreto das palavras de Jesus, Ela que as meditou todas longamente e guardou no seu coração. Melhor que ninguém Maria escutou o Filho muito-amado do Pai. Ela é a mulher toda interior, voltada para o interior, onde Deus oferece sem cessar um encontro com a sua criatura que Ele ama. Ninguém melhor que Maria pode ensinar-nos o que é viver com Jesus, numa proximidade muito simples, uma proximidade interior perfeita, no seio do mais banal, do mais obscuro quotidiano.

Maria foi a mulher inteiramente livre para Deus. Ela nunca esteve em função de qualquer coisa. Toda a sua existência está em função de Jesus. O olhar do seu coração está constantemente voltado para o seu Centro. Nada pode distraí-la do seu Centro ou afastá-la, embora esteja atenta àqueles que se aproximam d’Ela e ao cumprimento da sua tarefa até aos mínimos pormenores. Se recebemos Maria na nossa intimidade, Ela não pode deixar de nos ensinar a tornar-nos pessoas interiores, pessoas livres, descentrados de nós mesmos, voltados para Deus, todos ao serviço de Jesus Cristo nos outros, com uma grande simplicidade de espírito e de coração.   Seremos então pessoas «apostólicas», «enviados» pelo Espírito, porque tornados «compassivos». A compaixão de Deus pela humanidade foi a causa do envio de Cristo. É preciso ser livre de si mesmo para ultrapassar o seu próprio sofrimento e ir ao encontro dos outros, reconfortá-los, curá-los, ensiná-los (Mc 6, 34). Maria, a Compassiva, ensina-nos a entrar na imensa ternura de Deus que abraça todos os homens e mulheres pecadores e os salva no sangue do seu Filho – Ela que, neste momento de suprema dor, nos abre o seu coração ferido e  nos aceita a todos, como seus filhos muito-amados.

Receber Maria em sua casa, é ter acesso a um grande poder de intercessão. Maria Rivier bem o sabia. Conhecemos a confiança infantil que tinha pela  Santíssima Virgem. Pedia-lhe tudo, incansavelmente, e obtinha milagres, dos quais não se admirava de modo algum. Usar deste poder de intercessão, faz parte verdadeiramente do carisma das Irmãs da Apresentação de Maria. Não é possível abusar dele, tanto Deus deseja cumular-nos pela sua Mãe.

Quaisquer que sejam as nossas dificuldades, as nossas penas, as nossas tentações, Maria nunca nos deixa sem conforto. Toma sobre Ela as nossas preocupações, os nossos cuidados por aqueles de quem estamos encarregados, se os abandonamos a Ela. O seu coração enternece-se ao mínimo movimento dos seus filhos para com Ela – o mais pequeno gesto para com Ela: uma flor oferecida, uma saudação ao passar, um suspiro por Ela, o terço que se desfia simplesmente, mesmo sem palavras. E a resposta é tanto mais magnífica quanto pareceu lenta a vir.

Jesus Cristo é a fonte de toda a graça, mas quando Maria nos toca, é Jesus que nos toca. Jesus vê constantemente a sua Mãe em oração pelos seus filhos, uma oração que não pode ser desprezada, uma oração ao mesmo tempo audaciosa e discreta, como em Caná, que não pode ser rejeitada. Importa não cessar de recorrer a Maria, de repetir o seu nome, sobretudo quando nos acontece faltar-nos a coragem, duvidar das nossas forças, faltar de esperança. Tudo é possível a Maria. Um poeta russo escreve que mesmo no inferno a esperança nasce quando a Mãe de Deus ali penetra. Na Rússia, os cristãos afirmam que só existe a intercessão de Maria.

Há tantas angústias no mundo de hoje que batem à porta do nosso coração. Conhecemos tantas dores secretas, humanamente inconsoláveis, entre os que nos são próximos, os nossos estudantes, as pessoas que vêm confiar-se a nós. É preciso nos entregarmos a Maria com todos eles, tudo entregar ao seu sorriso de Mãe, ternamente compassiva e fiel. E o que podemos fazer de melhor ainda por aqueles que queremos consolar, não é levá-los eles próprios, se isto nos é dado, a beber nesta fonte do conforto. Os sofrimentos físicos ou morais, qualquer que seja a sua natureza, deixam de ter  importância quando podemos dirigir-nos a Maria.

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