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A grandeza de uma mulher pequena – 2ª parte

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Dom Augusto César

Convicção e ação

A partir daí, o zelo torna-se caminho, apesar dos obstáculos semeados pela Revolução Francesa. Pois, a fé nascida da respiração de Deus e da convicção da Cruz, não cede às ameaças da violência nem à presunção do cinismo. Assim aconteceu com a Igreja, logo no começo, como referem os Actos dos Apóstolos: à sua volta, rugia a ameaça do martírio e, entre os irmãos, o alento da fé e a certeza da vitória. Com efeito, como a história vem demonstrando, “o sangue dos mártires é semente de cristãos”!

Maria Rivier vivia mais da fidelidade ao compromisso, do que do medo. E a experiência do milagre que o céu lhe concedera, dava-lhe alento para enfrentar todas as dificuldades e zelo para atrair muitas crianças. Aliás (bem o sabemos), as crianças são as primeiras vítimas das revoluções e das ideologias, que pretendem esvaziá-las de convicções e valores, a fim de as manobrar à vontade ou de tolher o futuro. Mas, Maria Rivier aprendera – da contemplação da imagem, ao longo de tanto tempo… e das lições que o amor e a ternura lhe confiavam – a dar prioridade ao essencial. E quando assim é, o bem e a felicidade dos outros tem prioridade sobre o amor próprio ou sobre o egoísmo. Ou, como diz Bento XVI, ‘o amor crucificado é o maior dique contra o medo e arrogância do pecado’. Por isso, diante das investidas da revolução e seus agentes armados, a jovem Maria Rivier semeava o amor e a confiança. E tal ousadia chegou a granjear-lhe admiração e, mesmo, colaboração disfarçada.

Estamos, pois, diante de uma pessoa decidida pelo amor e a favor dos outros. E foi isso que ela aprendeu com os olhos, o coração e a fé, durante os longos momentos de meditação, na ‘capela dos penitentes’. Com efeito, olhando para Jesus e Maria, ela viu como o amor é mais forte do que a morte (e a Ressurreição é prova disso!). Então, aprendamos como ela, a desviar os olhos de tudo o que é mau ou negativo… para que o amor nos mantenha firmes na confiança, à luz da mesma Ressurreição.

Na realidade, quem deseja vencer o mal com o mal, esquece as palavras de Jesus, ditas a Pedro, no Jardim das Oliveiras: “Mete a espada na bainha, pois quem com ferros mata com ferros morre”.  E João Paulo II, diante da eminência da guerra contra o Iraque, insistiu com os Estados Unidos que não fossem por aí, pois a violência atrai violência, e a guerra mais guerra, ainda.

Então, Maria Rivier, determinada interiormente pelo amor e pela confiança, voltou-se para as crianças de alma e coração. E começando por atrair duas companheiras, à tarefa de catequisar e educar, acabou por levar atrás de si, uma Congregação inteira. Montpezat conheceria a primeira atividade; depois, a França e muitos outros países, graças ao ardor do seu zelo e à paixão do seu amor agradecido. Pois, o compromisso assumido diante da Mãe do céu, não era só a resposta generosa pela graça do milagre, era também ‘chama de fogo’ que consumia a sua alma apostólica.

Pessoalmente, dou-vos este testemunho: o entusiasmo de Maria Rivier, enche-me de entusiasmo! E um dos livros mais pequenos, mas saboroso de ler, é precisamente “Chama de Fogo”, do P. Louis-Albert Lassus. Lê-se dum folgo e diz mais do que se lê.

O apostolado e sua dimensão

Agora, vamos à ação, uma vez que o caminho está traçado, e é o seguinte: a catequese é fundamental e a escola é necessária! A partir daqui, Maria Rivier dá-se ao trabalho com ‘entusiasmo’ e com ‘urgência’. Com entusiasmo, porque o projeto de Deus levado a cabo por Jesus Cristo, conta com a nossa colaboração: “Como Eu fiz, fazei vós também”“Ide e ensinai” … Além disso, durante quatro anos, Maria Rivier tocou de muito perto o amor apaixonado daquela Mãe dolorosa e a doação plena do Filho, que era dela e mais de Deus. Mas, também, porque sentindo-se privilegiada pela cura, devia mostrar-se agradecida, e a isso se comprometera. E com urgência, porque a revolução corria veloz como o vento, atropelando valores e pessoas, a ponto de deixar as paróquias vazias de pastores e as crianças sem o carinho apostólico de muitas pessoas generosas e consagradas. Era uma revolução anti-religiosa e órfã de Deus (como o laicismo de hoje se afirma, também!). E quando assim acontece, é preciso dialogar a fé em família e em grupo, a fim de agir por convicção e sem medo, pois, os violentos aparecem geralmente vazios de princípios e cheios de oportunismo.

Maria Rivier também se propunha a fazer uma ‘revolução’, mas por caminhos bem diferentes: compadecia-se das crianças e animava as famílias, atraía à catequese e organizava a instrução, saía ao encontro das pessoas e animava-as a dar testemunho público da sua fé. E tudo isto, sem presunção, mas com muita convicção e confiança. O zelo era a alma do seu apostolado e quem dela se aproximava, ficava contagiada e com vontade de fazer o mesmo.

Claro que a formação recebida, a partir dos 12 anos, no mosteiro das Filhas de Nossa Senhora, em Paradelle, não dava para tudo. E não deu sequer para um lugar naquele mosteiro, como consagrada. Pois, quando pediu a admissão, foi olhada e medida pela sua estatura mal desenvolvida e pela condição aparentemente pouco saudável. Simplesmente, sentindo-se rejeitada, Maria Rivier consultou a Mãe do céu e sentiu-se estimulada a erguer ela mesma um mosteiro, mais amplo e mais aberto às obreiras da fé e da caridade. Havia de ser, então, a Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, com este rosto assim, desenhado por ela mesma: “A vida de uma religiosa da Apresentação, deve ser a vida de Jesus Cristo, pois está toda integrada no mesmo mistério: salvar almas para Glória de Deus e felicidade eterna das mesmas. O que é preciso é que seja Jesus Cristo que fale, cante, actue, sofra e morra em cada uma de nós”.

Claro que as duas companheiras ditas acima, haviam de servir como fermento a levedar. E ela, por sua vez, com ar alegre, comunicativo e interiormente muito motivado, serviria de mediação, para atrair e interpelar. E as vocações começaram a surgir… É o momento da expansão: expansão das comunidades e das escolas, das catequeses e do apostolado mais amplo… e, porque não, do sofrimento também (pois, o rosto de Jesus morto nos braços de Sua Mãe, denuncia a inveja, o ciúme e outros números obstáculos, semeados no tempo e na história, à conta do ‘maligno’. Mesmo assim, quando Mari Rivier partiu para o céu, já as escolas ou centros de formação-catequese, atingiam o belo número de 141.

*Fotografia tirada da Cripta, da Casa Mãe em França

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